Enquanto no Maranhão, a juventude fora enganada pelo 'comunismo, em Cuba a juventude odeia e espera ter liberdade de expressão e direito ao voto para escolher o seu presidente com o advento de um novo sistema de governo mais humano e solidário.
Renda
melhor, direito de escolher o presidente, liberdade de expressão são
algumas das expectativas de moças e rapazes que não participam das
homenagens ao líder da Revolução Cubana.
Enquanto multidões em Havana se preparavam para um ato em homenagem a
Fidel Castro na noite desta terça-feira (29), jovens ouvidos pelo G1
na capital cubana disseram não ter motivos para comparecer à cerimônia
na Praça da Revolução. Para eles, a morte do líder da Revolução Cubana
não deve ter impacto no cotidiano ou mesmo trazer mudanças que desejam na Ilha.
Direito ao voto direto e liberdade de expressãoÉ
o caso de Mai*, de 21 anos, que está passando alguns dias na casa de um
primo em Santiago de Vegas, um vilarejo a cerca de 40 minutos do centro
da capital cubana. “Não participei das homenagens. A política não me
interessa. Políticos falam muito e não fazem nem a metade do que
prometem. Não tenho raiva de Fidel. Ele foi sem dúvida um homem
inteligente e gigante porque conseguiu manter o país sob o seu modelo,
mas muita coisa precisa mudar”, afirmou.
A menina deixou a escola antes de concluir o equivalente ao ensino
médio no Brasil. Em princípio, queria estudar medicina, mas desistiu.
“Tenho mais três irmãos mais novos e meus pais não podem mais me ajudar,
por isso, estou aqui procurando trabalho. Não sei se vou ter ânimo para
continuar estudando medicina. São muitos anos de estudo e se ganha
muito pouco depois de formada.”
A chegada de uma vizinha interrompe a conversa, que era acompanhada
pelo casal de primos que a acolhe em casa temporariamente. Ela retoma ao
raciocínio assim que a mulher deixa a casa. Na escola, ela diz que os
professores costumam enaltecer o regime.
“Na escola, eles nos ensinam a fazer a Revolução, mas isso não nos
motiva. Eu queria votar para presidente e ter mais liberdade de
expressão”, sintetiza. Questionada se imagina que isso vai acontecer em
alguns anos, ela para de sorrir e diz: “Não. Por isso, eu quero sair
daqui. Outros países têm problemas, mas pelo menos as pessoas podem
dizer o que querem”.
Esse também é o sonho de José, de 21 anos, que tem um irmão que fez a
travessia para os Estados Unidos em uma lancha construída por amigos há
cerca de seis meses. Atualmente está em Miami e tenta se estabelecer nos
Estados Unidos. “Disse que ia comprar umas bebidas para comemorar a
morte de Fidel”, disse rindo. Um sonho? “Deixar Cuba, mas não de lancha
como meu irmão, quero ir de avião. Não quero muita emoção”, afirmou
rindo.
Mais espaço para o empreendedorismoJuan,
irmão de José, é marinheiro e se formou na universidade. Ele já tentou
deixar Cuba, mas não teve a mesma sorte do irmão. Tentou deixar a ilha
de lancha, construída a partir de um motor de carro, “porque não temos
dinheiro para alugar uma lancha de verdade”. Em uma das paradas
necessárias durante a travessia, ele acabou sendo preso com outros
latino-americanos no México. Autoditada, que aprendeu a falar francês
sozinho, disse que os amigos costumavam dizer que em outros países ele
poderia ter êxito. “Mas aqui não tenho esperança”, afirmou.
“A média do salário em Cuba é de US$ 20. Com isso ou você come ou se
veste. Aqui todo mundo inventa coisas novas como dar assistência para o
turista, como indicar um local para ele se hospedar ou comprar algo.
Porém, se me pegam em uma loja com um turista eu posso ser preso porque
pensam que eu o estou importunando. Não pensam que o turista busca
ajuda”, declarou.
“Todas nossas atividades são muito controladas. Não dão espaço para
nenhuma iniciativa, por isso, é muito fácil ser preso. Muitos jovens são
detidos”, afirmou o rapaz que já passou 3 anos e sete meses na cadeia
por vender remédios sem licença. “Eu recebi uma graça e saí no indulto
dado na vinda do Papa Francisco”, afirmou.
Uma mudança necessária e urgente seria o voto direto para presidente.
“Votamos em um delegado, que vota em um chefe de circunscrição e,
finalmente, quem votam são só os mesmos. É um sistema muito injusto”,
avalia. Ele também acredita que precisa uma mudança na política
econômica embora sinta que algumas mudanças implementadas por Raul
Castro, irmão de Fidel que assumiu há oito anos como presidente, tem
ajudado um pouco. “Hoje pelo menos você pode vender a sua casa, pegar o
dinheiro e partir para outro país”, afirma.
Para Juan, a morte de Fidel não causou nenhuma comoção entre os mais
jovens. “Os jovens que vão a essas homenagens normalmente são aqueles
que têm um trabalho público, sofrem pressão dos patrões. Não posso dizer
que os jovens estão felizes. Os campesinos do leste do país são os que
mais sentem, porque foram os povos mais ajudados por Fidel, mas a
maioria não se interessou”.
Ser melhor remunerada
Maria, de 28 anos, não fala em deixar a ilha. Ela não pode fazer o
curso de cabeleira que adora. Hoje ajuda no orçamento familiar com a
atividade de faxineira. “Tenho que trabalhar o dia inteiro para ganhar
US$ 5. Eu trabalho na casa dos pilotos de avião. Minhas patroas me dão
muitos presentes, mas não me dão comida. Tenho que levar um lanche a
cada vez”, conta ao mostrar as mãos com ferimentos “de tanto esfregar o
chão, os tapetes”. Se tivesse que mudar algo em Cuba? “Queremos comer,
nos divertir e viver. Para isso, teriam que pagar melhor pelo nosso
trabalho. O cubano é batalhador, mas não tem retorno”, afirmou enquanto
brincava com as pulseiras que ganhou de uma das patroas.
*Todos os nomes desta reportagem foram modificados a pedido dos entrevistados.
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