A crítica aos serviços da Embratur agora vem do diplomata Marcos
Caramuru de Paiva, que também é sócio e gestor da KEMU Consultoria, com
sede em Xangai, e há oito anos vive no Leste Asiático.
Caramuru expôs suas críticas em um artigo publicado na Folha de São Paulo,
edição deste sábado, 10. Na avaliação do diplomata a Embratur faz pouco
caso para atrair os chineses a fazerem turismo no Brasil.
Meses atrás, a mesma Embratur foi alvo de críticas do prefeito do Rio
de Janeiro, Eduardo Paes, que na ocasião afirmou que a campanha da
Embratur é um “horror”, em alusão às campanhas de publicidade da empresa
estatal no exterior para divulgar a Cidade Maravilhosa.
A Embratur, como sabemos, é presidida pelo maranhense Flávio Dino, pré-candidato a governador pelo PCdoB.
A seguir a íntegra do artigo do senhor Marcos Caramuru de Paiva. Veja:
Alô, Embratur
“Com a Amazônia, o Pantanal, Foz do Iguaçu e tantas outras maravilhas, temos tudo para nos tornarmos um destino preferencial. Só precisaremos nos organizar para que isso aconteça”
Há um debate agitado na China, inclusive nas redes sociais, sobre o comportamento dos turistas chineses no exterior.
O Serviço de Viagens fez uma chamada geral aos bons modos. Uma alta
autoridade política declarou que é preciso supervisionar a civilidade
dos cidadãos. A Administração Nacional do Turismo divulgou uma cartilha
para quem sai do país.
Dois ou três vexames recentes causaram furor entre viajantes bem
comportados. Ser turista disciplinado é obrigação, diz a cartilha.
Em 2012, os chineses fizeram 80 milhões de viagens internacionais. Os
gastos correspondentes alcançaram US$ 102 bilhões. O número de
viajantes será crescente: fala-se em 100 milhões em 2015.
Uma família de classe média alta viaja, em média, 2,8 vezes ao ano.
Antes viajava até mais. Agora que já conhece muita coisa, prefere alongar seu tempo nos lugares.
Os chineses são os turistas que mais compram artigos de luxo em
viagens: € 875 por aquisição isenta de taxas, 70% acima da média global.
Um chinês, dizem as pesquisas, identifica 40 marcas e, quando as
encontra, leva algo.
Mas há um bom número de pessoas que só deseja ver a natureza, encontrar a paz que não existe nas megalópoles.
Na China, o que mais se aprecia num centro urbano é um lugar calmo. É
comum agradar os convidados levando-os a restaurantes vazios ou
alugando uma sala própria, separada do local onde estão os demais
clientes.
Sair de casa à cata de um animal, uma beleza natural,
um prato típico ou uma fruta é costume nos roteiros internos. Quem vai
ao exterior busca frequentemente algo assim. Quer experimentar sabores
novos.
Mas também sente falta da culinária que conhece. Um amigo certa vez
me disse: “Levei meus pais a Roma. Eles adoraram. Há chineses excelentes
por lá”.
A escolha dos roteiros internacionais não segue padrões. Visitar a
África do Sul é uma febre que não passa, e a América Latina começa a
chamar a atenção.
Recentemente, viajei ao lado de uma jovem aparentando vinte e muitos
anos que regressava da Patagônia. Era a sua segunda viagem à região. Na
primeira, havia ido às ilhas Galápagos. Deixará a Europa para quando
tiver menos pique, disse-me.
A nossa Embratur declara a quem pergunta que a China não é
prioridade. E a propaganda turística brasileira explora muito as praias,
que os chineses não apreciam. Preferem um jardim botânico.
Mas, com a Amazônia, o Pantanal, Foz do Iguaçu e tantas outras
maravilhas, temos tudo para nos tornarmos um destino preferencial. Só
precisaremos nos organizar para que isso aconteça.
Ou, alternativamente, veremos os chineses chegarem no atropelo mesmo.
Eles ainda sabem pouco do Brasil. Mas, quando nos conhecerem ou ouvirem
histórias de quem já nos visitou, não se inibirão.
Como não se inibiram
ao se tornar, sem que percebêssemos, o nosso maior parceiro e maior
desafio comercial.
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