
A controvertida decisão do Supremo Tribunal Federal (STF) de que a
desaprovação de contas não gera inelegibilidade do prefeito, nos termos
da Lei da Ficha Limpa, vale apenas para julgamentos feitos por Tribunais
de Contas dos Estados (TCEs) e não aos julgamentos de gestores públicos
que tiveram suas contas julgadas irregulares pelo Tribunal de Contas da
União (TCU).
Dessa forma, todos os 6.901 políticos da nova lista de fichas sujas
divulgada pelo TCU e entregue ao Superior Tribunal Eleitoral (TSE), na
segunda-feira 15, podem ser alvos de ações de inelegibilidades propostas
pelos adversários ou pelo Ministério Público Eleitoral. O próprio juiz
eleitoral pode também, por conta própria, analisar os casos e declarar
os candidatos inelegíveis, sem necessidade de ser provocado.
Esse entendimento está no próprio Recurso Extraordinário (RE) 848826, julgado no último dia 10 pelo STF, quando o Plenário decidiu que é exclusivamente da Câmara Municipal a competência para julgar as contas de governo e as contas de gestão dos prefeitos, cabendo aos TCEs - e não ao TCU - auxiliar o Poder Legislativo municipal, emitindo parecer prévio e opinativo, que somente poderá ser derrubado por decisão de 2/3 dos vereadores.
Diferente dos TCEs, que tem poder de apenas emitir parecer prévio e
opinativo sobre as contas do chefe do Executivo municipal, o trabalho do
TCU é julgar gestores das três esferas da administração: federal,
estadual e municipal. Isso porque o TCU pode julgar qualquer um, desde
que o caso envolva mal o uso de recursos federais, em ações
irregulares como omissão no dever de prestar contas; gestão ilegal,
ilegítima ou antieconômica, ou ainda infração à norma legal de natureza
contábil, financeira, orçamentária, operacional ou patrimonial; dano ao
Erário, e, por fim, desfalque ou desvio de dinheiro público.
Potencias inelegíveis
No Maranhão, a lista atualizada do TCU aponta que pelo menos 563
políticos estão entre os potenciais inelegíveis por problemas nas
prestações de contas, referente a convênios e contratos para prestação
de serviços firmados com recursos enviados pelo governo federal. Na
relação anterior, entregue ao TSE em junho, a quantidade de maranhenses
fichas sujas era um pouco menor, de 549.
Entre os fichas sujas os mais conhecidos na lista do TCU, que
concorrem nas eleições de 2 de outubro, aparece os nomes dos
ex-prefeitos Zé Vieira, de Bacabal; Ildon Marques, de Imperatriz; e
Liorne Branco, de Alto Alegre do Maranhão. Todos tentam voltar ao
comando do município nestas eleições. Segundo a Lei da Ficha Limpa,
porém, eles estão inelegíveis por oito anos.
Ainda assim, por uma brecha na própria legislação, os candidatos
fichas sujas que aparecem na lista do TCU podem tentar concorrer, porém
todos sub judice. Isto porquê, embora na disputa, eles possuem
pendências legais por conta da inclusão na lista de inelegíveis do
Tribunal de Contas da União, e por isso podem ter seus votos anulados
pela Justiça Eleitoral, que é quem tem o poder de decisão final para
decidir sobre o caso.
Outros fichas sujas
Já entre os que não concorrem ao pleito deste ano, mas são apontados
pelo TCU como fichas sujas, destacam-se os nomes dos prefeitos e
ex-prefeitos de Imperatriz, Jomar Fernandes; Chapadinha, Isaías Fortes;
Vitorino Freire, Juscelino Rezende; Bacabeira, José Reinaldo Calvet;
Matões, Rubens Pereira; Codó, Ricardo Archer; Anapurus, Tina Monteles;
São João Batista, Zequinha Soares; e Raposa, José Laci de Oliveira.
Quem também aparece na lista é o pai do governador Flávio Dino
(PCdoB), o ex-prefeito de João Lisboa, Sálvio de Jesus Castro e Costa, o
Sálvio Dino. Ele aparece com pelo menos três condenações.
Em uma delas, em tomadas de contas especial, o TCU detectou
irregularidades na obra e na gestão financeiro de um convênio para um
sistema simplificado de abastecimento de água no povoado de Vila
Tibúrcio, localizado no município. O relatório aponta que o ex-prefeito
recebeu o dinheiro federal, mas não o aplicou corretamente na obra, que
não foi concluída. O sistema de abastecimento de água feito por Sálvio
Dino, frisa o relatório, foi construído em “condições precárias e
desumanas”.
O deputado estadual Hemetério Weba também aparece na lista de fichas sujas do TCU.
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