Pages

terça-feira, 22 de julho de 2008

Será que em Coroatá também tá assim???

Nas pequenas cidades, reeleição é covardia
21/07 - 12:23 - Ricardo Kotscho


O episódio insólito aconteceu neste final de semana numa cidade do litoral paulista, mas poderia ter sido em qualquer outra do País onde há candidatos à reeleição. Por razões óbvias, terei de omitir os nomes dos personagens.

Alertado por sua rede de informantes, o prefeito candidato a ficar mais quatro anos no cargo foi tirar satisfações com o dono de um pequeno comércio. Não mandou assessor, nem representante: apresentou-se pessoalmente para saber o que estava acontecendo, com toda a autoridade do cargo.

Queria saber por que o comerciante estava falando mal dele e não o apoiava nas eleições. Surpreso, o dono da venda fez-se de desentendido e que, claro, muito ao contrário, adorava a administração do prefeito e irá votar nele.

Poderia ser de outro jeito? Se ousasse falar qualquer outra coisa, no dia seguinte, por qualquer papel jogado no chão ou vidro quebrado no banheiro, um fiscal iria lá e fecharia o boteco. Quanto menor a cidade, como todos sabemos, maior o poder do prefeito - para o bem ou para o mal.

Todo mundo depende dele para arrumar uma vaga na escola ou no hospital, conseguir o alvará para fazer um puxadinho na casa, abrir um comércio ou pedir licença para puxar um carrinho de sorvete. Se ele não for com a tua cara ou achar que você apóia o adversário, nada feito.

Até a Bolsa Família depende dele, já que as prefeituras controlam os cadastros e decidem quem vai ou não receber o benefício do governo federal.

Com o instituto da reeleição, o leitor pode imaginar o grau de persuasão nas mãos de um chefe do poder municipal com a perspectiva de permanecer mais quatro anos no cargo.

Com o título “Eles não querem largar o osso”, a última edição da revista “Veja” publica um levantamento interessante sobre o apetite dos alcaides.

Há oito anos, quando pela primeira vez se admitiu reeleição em pleitos municipais, 66% dos prefeitos ofereceram-se para o sacrifício. Este ano, este número já subiu para 77%, o que nos demonstra que cada vez mais prefeitos são contra a alternância do poder.

Se, nos grandes centros, com a fiscalização da imprensa e das entidades da sociedade civil, já são constantes as denúncias de abuso de poder nas eleições majoritárias, pode-se imaginar o que acontece nos municípios onde os jornais ou emissoras de rádio são geralmente bancados pela própria Prefeitura ou amigos do prefeito.

É uma covardia. Acrescente-se a isso o fato de que, na maioria das cidades brasileiras, os candidatos não têm acesso a horário gratuito de rádio e televisão para se ter uma idéia de quão desiguais são as disputas entre quem quer ficar e os candidatos de oposição que querem entrar.

Além desta absoluta falta de isonomia na disputa, ainda há outra seqüela danosa para a democracia: o estrangulamento da renovação de lideranças.

Quando o prefeito não pode se candidatar à reeleição, após dois mandatos consecutivos, na maioria dos casos é um ex-prefeito que se apresenta outra vez e assim segue o baile, indefinidamente.

Como é impossível saber o que está se passando nos mais de cinco mil municípios brasileiros, peço a ajuda dos leitores.

Em seus comentários, seria bom para a democracia brasileira que nos relatassem outros casos de abusos de poder dos candidatos à reeleição. Tenho certeza de que exemplos não faltam.

A boa novidade destas eleições vem justamente da maior cidade do País. Hoje de manhã, no teatro do Sesc Consolação, o Movimento Nossa São Paulo, que abriga cerca de 500 organizações da sociedade civil, entregaram aos candidatos à Prefeitura mais de 1500 propostas de governo.

À frente da iniciativa, lançada em maio do ano passado, mais uma vez, está meu incansável amigo Oded Grajew: “qualquer um que queira fazer um plano de governo encontrará aqui um material riquíssimo”.

As propostas foram debatidas numa série de encontros nos últimos quatro meses e resumidas em dez prioridades.

É uma boa maneira da nossa chamada sociedade civil participar do processo eleitoral de forma ativa para poder depois cobrar o eleito, em vez de ficar só reclamando pelos cantos.
.
Reproduzido do site Último Segundo
.
Postado por Idalgo Lacerda

Nenhum comentário:

Postar um comentário

© Copyright 2008 - Idalgo Lacerda.