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segunda-feira, 30 de janeiro de 2017

Nº de casos de febre amarela já supera em 40% registros no pior ano da doença. Segundo boletim do ministério da Saúde, já são 117 casos confirmados da infecção; em 1993, foram contabilizados 83 pacientes




     
Lígia Formenti , 
O Estado de S. Paulo

30 Janeiro 2017 | 20h55

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BRASÍLIA - A epidemia de febre amarela que atinge o Brasil já supera em 40% a pior marca registrada da doença desde os anos 1980. Boletim divulgado nesta segunda-feira, 30, indica haver 117 casos confirmados da infecção, com 46 mortes. Em 1993, o pior ano da série histórica, foram contabilizados 83 pacientes com a doença.

O número, no entanto, pode ser bem maior do que o revelado na estatística atual. Há ainda 623 casos em investigação pelas autoridades sanitárias - o equivalente a 80% do total de registros. Questionado, o Ministério da Saúde informou não haver um prazo para que os exames sejam concluídos. 

A análise de cada caso pode variar entre 24 horas até 1 mês. Os exames ficam sob a responsabilidade dos laboratórios oficiais dos Estados. Em casos de confirmação, amostras são enviadas para laboratórios de referência.

Foto: Divulgação
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Minas Gerais é o Estado mais afetado pela doença
"Há um vazio muito grande de informações. Não sabemos ao certo a dimensão do problema", afirma o presidente da Sociedade Brasileira de Dengue e Arboviroses, Artur Timerman. Ele questiona o fato de as análises demorarem tanto a serem concluídas. "É claro que há um problema", completa.

Chama atenção também o pequeno número de casos descartados até o momento. De acordo com o Ministério da Saúde, não basta afastar a hipótese de febre amarela para descartar um caso suspeito. É preciso também identificar a causa da doença que afeta o paciente.

Os casos estão concentrados em Minas Gerais. Até o momento, foram notificados 712 pacientes com suspeita da doença. Desse total, 584 continuam em investigação e 109 foram confirmados. Há ainda 58 óbitos em investigação no Estado. No Brasil todo, são 64.
No Espírito Santo, Estado que até este ano era considerado território livre de risco de febre amarela, foram contabilizados até a tarde de segunda 39 registros, com cinco confirmações. Um dos pacientes que tiveram a febre amarela confirmada morreu.

Até o momento, especialistas não conseguiram identificar as causas de um número tão significativo de casos no País. Uma das hipóteses é a de que tenha havido demora no reforço da vacinação em Minas. Há também a possibilidade de que o rompimento da barragem de Mariana possa ter agravado uma situação de desequilíbrio já existente na região. De acordo com a subsecretária de Minas, Márcia Farias, a médio prazo um estudo deverá ser feito na região para identificar se há relação entre o desastre o aumento de casos.

Para o sanitarista da Fiocruz Cláudio Maierovitch, o surto de febre amarela enfrentado no País é em parte reflexo da incapacidade do sistema de saúde reagir rapidamente aos problemas. "Assistimos a um esgotamento da capacidade de respostas. As ações estão sendo executadas no limite", diz o pesquisador, que esteve à frente da diretoria do departamento de Vigilância em Doenças Transmissíveis do Ministério da Saúde até o ano passado.

Maierovitch observa que há pelo menos dois anos alertas sobre o aumento do risco da retomada da circulação do vírus da febre amarela são encaminhados para autoridades locais. A recomendação era a de se reforçar a vacinação em áreas consideradas vulneráveis e a vigilância para um eventual aumento de morte de macacos - um indicativo de risco para surtos da doença. Maierovitch atribui a falta de preparativos à sucessão de problemas dos últimos anos. Ele observa que o Brasil enfrentou uma série de episódios que mobilizaram equipes de vigilância: epidemias de dengue intercaladas com surtos de gripe, o aparecimento da zika, chikungunya, microcefalia. "Sem falar nos preparativos para Copa e Olimpíada. O sistema, que já conta com um número limitado de pessoas, de recursos, está sempre trabalhando com o problema da vez."

Em Minas, a maioria dos casos suspeitos ocorreu entre homens (89%). Entre os pacientes que tiveram febre amarela confirmada, 57% não haviam sido vacinados e para 43% não há informação.

A maior taxa de letalidade ocorreu entre homens com idade entre 50 a 59 anos. Foram ao todo 27 casos - 14 morreram. Estudos feitos pela Secretaria de Vigilância em Saúde em um surto identificado em Minas, em 2003, identificou a maior taxa de letalidade entre homens.

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