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sexta-feira, 9 de novembro de 2012

Premiação: "Memórias de Maria de Lurdes Oliveira Sousa", por Mayara dos Santos

Aluna Mayara com a porf. Amparo no programa Coroatá em Debate
O título acima é referente às memórias de uma senhora de 51 anos, cuja profissão é a de ser costureira, onde alenta o sonho em ter sempre uma vida pacata na urbana cidade de Coroatá, ao lado dos filhos e do marido que é pescador. As memórias de Maria Sousa arremetem-na às horas fagueiras e de lazer, quando desce e sobe no embalo as águas do Rio Itapecuru de canoa em companhia do esposo, vislumbrando e recordando os acontecimentos do dia a dia. 
O texto literário foi escrito pela jovem pequenina coroataense, Mayara Póvoa dos Santos Alves, que cursa a 6ª Série B, no Centro Educacional Léda Tajra. Ela é muito talentosa! Vai participar das Memórias Literárias da Olimpíada da Língua Portuguesa Escrevendo o Futuro, que será realizado na cidade de São Paulo, nos dias 12, 13 e 14 de novembro de 2012.
Quem segue acompanhando a menina Mayara, é a professora Amparo de Lellys Lys, que vem fazendo um brilhante trabalho junto aos jovens e descobrindo talentos no CE Léda Tajra. Além de contar com o total apoio da Gestora Elineuza Viana, que não mede esforços, afim de que os alunos daquele conceituado estabelecimento tenham a oportunidade de serem destacados em futuras olimpíadas de quaisquer atividades escolares em nível nacional.
Em recente entrevista concedida no programa Coroatá em Debate, da rádio Geração Jovem FM, a pequinina talentosa Mayara revelou outros dons naturais. Além da trendência natural de ser no futuro uma grande escritora. Ela é dona de uma belíssima voz! Durante a entrevista narrou o seu próprio texto com bastante profundade, de acorodo com sua naturalidade interpretatvia. Outra aptidão da jovem, é a de cantar e interpretar canções da Música popular Brasilera (MPB). Em breve, ela vai fazer uma capelinha no mesmo programa de rádio, esperem para ouvi-la!
A professora Amparo, acrescentou que a jovem coroataense já é semifinalista e que irá receber a Medalha de Bronze conseguida nas Olimpíadas da Língua Portuguesa Escrevendo o Futuro. Parabéns! A jovem Mayara e a equipe de professores do Léda Tajra.
Leia abaixo na íntegra, as "Memórias de Maria de Lurdes Oliveira Sousa".
O encanto da vida de uma menina-mulher.
Ainda me lembro como se fosse hoje, chego até sentir o cheiro do mato, o gosto do peixe, das raízes de macaxeira, o frescor da brisa de quando era adolescente (17 anos), mas já mulher... Mulher de pescador.
Final de tarde botava a canoa a correr nas águas do rio Itapecuru, eu grávida de meu 1º filho e meu esposo, fomos colocar uma armadilha para pegar mandis que se pega mais na noite de lua clara, e ficamos lá a espera do dia chegar, quando surgiu um cheiro muito forte de peixe e um barulho estranho... Não tínhamos dúvida era a Sucuri - cobra grande que engole ser humano - e que segundo pescadores perseguem mulher grávida, eu e meu esposo saímos das margens do rio e fomos rasgando mato até a estrada de volta para casa.
Era a nossa sobrevivência, vivíamos da pesca, o tempo passou e já tinha meus três filhos - uma menina e dois meninos-e descíamos nas águas do rio, era um encanto só, nossos filhos ficavam maravilhados com toda aquela natureza, perguntavam tanto que às vezes ficávamos sem respostas... E as histórias?...As histórias que contavam vinham todas da imaginação, era fantástico ficar arranchados na beira do rio por dois dias.
Enquanto esperávamos a noite chegar eu preparava o rango, botava para cozinhar na panela de ferro preta por fora pelas labaredas das chamas das lenhas, o feijão colhido ali mesmo na nossa vazante e meu marido ficava a assar os peixes num espeto de pau, depois sentávamos naquela areia fina, alva e fria e comíamos com farinha de mandioca.
As tardes em embaladas pelos sonhos das crianças que ficavam a brincar com a areia molhada moldando criaturas que só elas mesmas conheciam e dali dos galhos das árvores deitada na rede de imbira( material retirado de palmeiras) ficava não só a observá-los, mas todo aquele espetáculo que estava em minha volta, os pássaros que sobrevoavam as águas, a coruja, a raposa que às vezes me espantava com seu grito.         
Quando a cigarra aparecia com o seu canto já sabia que a noite se aproximava e era hora de colocar a macaxeira para cozinhar e preparar o café, era o nosso jantar. O nosso trabalho agora sim ia começar, colocávamos as crianças para dormir e íamos pescar peixes: surubins, mandir, piau – de - corda, piau - de- vara, piau- de – coco, piaba e piranha. Antes de o sol despontar na nascente do rio, era hora de jogar cevada feita com cuim de arroz para pegar camarões.  A manhã surgia em meio a revoadas dos pássaros tratava os peixes e colocava-os na salmoura­ – mistura de água com bastante sal para conservar os peixes – juntamente com os camarões. E assim o dia seguia sem monotonia e na madrugada do segundo dia era hora de voltar para chegar a tempo de vender os peixes na feirinha.
Com o lampião acesso e as crianças dormindo remávamos contra corrente, algumas vezes o sono me dominava e despertavam com a voz do meu marido pedindo para acordar, e tinha que remar com mais velocidade, pois a canoa tinha descido e não podíamos chegar atrasados.
E assim íamos levando a vida, as crianças foram crescendo e foram deixando a canoa pelos bancos das escolas e só nos acompanhávamos nos finais de semana, depois percebi que precisava ficar mais tempo com eles e deixei os remos pela pisadeira de uma máquina de costura.
Hoje meu paraíso ainda existe nas lembranças que vivi e no meu pequeno quintal que fica às margens do mesmo rio. Aqui eu planto pequenas árvores, flores... A cigarra ainda me acompanha todas as tardes, canta em uma gigante amendoeira para embalar meus sonhos de que ainda é possível se ter um ambiente sem tanta poluição e descasos.
Entre uma roupa e outra que costuro observo esse meu companheiro que me trouxe a existência e sobrevivência e conto tantas histórias para minhas clientes que vivi desse encantador lugar onde vivo.
Memórias de Maria de Lurdes Oliveira Sousa- 51 anos - costureira
Aluna: Mayara Povoa dos Santos - 6ª série B- CE Lêda Tajra

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